A arte subtil de saber desapegar

Uma viagem ao passado: O início do Lolly Taste

Não sei há quanto tempo me acompanhas por aqui, então vamos voltar a 2008, quando criei um blog chamado Lolly Taste. Já tinha tido um outro antes, mas sem grande entusiasmo, por isso considero que o Lolly Taste foi o primeiro de verdade, ativo até 2019 – uns bonitos 11 anos.

A época dos blogs foi uma era dourada da internet. E, perdoa-me se este post soa como “lá está a velhadas a dizer que antigamente é que era bom”, mas é um facto. A internet era diferente naquela altura, e partilhar coisas nela também. Sim, existiam influenciadores, marcas e pessoas de sucesso, mas acima de tudo, havia tempo. Havia o prazer de viver devagar.

A mudança dos tempos: A era do consumo rápido

As pessoas gostavam de ler posts e de os comentar. As comunidades de bloggers eram incríveis, e eu fiz amizades para a vida. Fui speaker em eventos, apareci na TV, co-fundei um evento 100% solidário que angariou mais de 5.000€ para instituições de caridade, e sim, doámos todo o dinheiro.

Mas estamos numa nova era – a era do consumo rápido. Hoje, ninguém tem tempo para comentar uma foto no Instagram, quanto mais ler um artigo num blog – especialmente escrito por mim, que tenho tendência a escrever muito.

A Adaptação ao novo: vídeos, podcasts e newsletters

Por isso, fui-me adaptando. Criei mais vídeos em formato reel, algo que me diverte, e um podcast que, durante muito tempo, me entusiasmou. No entanto, para manter o que realmente amo fazer – escrever – sempre tive um grande carinho pela newsletter da Surya, onde partilho coisas mais pessoais.

Voltando ao podcast, o Âmbar foi uma iniciativa muito intuitiva. Eu estava grávida – ninguém sabia, e o mundo digital só soube quando a “patroa” já tinha 3 meses – e apeteceu-me criar um podcast. Gravei uma primeira temporada super entusiasmante, fui mãe, e 11 meses depois regressei para a segunda temporada, desta vez com convidadas extraordinárias.

O Desapego: A decisão de deixar o podcast

Mas… tudo na vida tem um “mas”. Por causa de um pico de trabalho entre março e junho, o podcast parou abruptamente. Na altura, pensei que seria apenas uma pausa para organizar prioridades, com o objetivo de voltar agora em setembro. Mas não vai acontecer. Na verdade, por esta altura, já nem encontras o podcast.

O que se passou? Nada de grave, apenas aceitei que a impermanência da vida é uma coisa muito bonita e que é importante estarmos abertos a ela. Em julho, quando deveria começar a gravar, não me apeteceu. Depois vieram as férias, e, quando regressei, percebi que o podcast já não fazia sentido para mim.

O reencontro com a escrita: Uma nova fase

Cheguei à conclusão de que sentar-me para gravar, editar e falar sobre o podcast nas redes sociais tinha-se tornado um frete. Pelo contrário, voltei a sentir uma grande vontade de escrever num blog.

Há uma coisa importante a reter: não acredito que devemos reger a nossa vida apenas pela motivação, porque a motivação é volátil. Também sei que muitas vezes temos de fazer coisas que não gostamos tanto, mas que precisam de ser feitas. No entanto, há coisas que mantemos apenas por carolice, porque todos têm ou porque é o que funciona melhor.

E a questão é: Funciona melhor para quem? Sim, o mercado diz que os podcasts estão em voga, mas… quando foi que deixámos de fazer coisas também para nós, pelo nosso prazer? Escrever este texto por exemplo, está a ser tão revitalizante.